O tema da liberdade da vontade em Santo Agostinho apresenta uma série de aporias de não fácil solução. Analisa-se nesta obras duas aporias percebidas por Paul Ricoeur na sua interpretação do conceito de pecado original em Agostinho. A primeira, diz respeito à sua contextualização no âmbito da busca de uma explicação causal para a origem do mal, o que faz com que a argumentação, para não proceder a um retrocesso ad infinitum, termine sempre numa causa necessária, o que é contrário à essência da própria liberdade, que supõe a contingência (a possibilidade de que o que esteja em questão aconteça ou não, dependendo da escolha livre). As várias tentativas empreendidas por Agostinho para chegar a uma explicação causal para a liberdade da vontade acabam se mostrando todas inconsistentes, de maneira a terminar numa espécie de insatisfação e incompreensibilidade, o que parece estar vinculado ao próprio registro conceitual equivocado: o da explicação conceitual pela busca da causa. A segunda aporia, diz respeito ao contexto jurídico em que o tema da liberdade da vontade é abordado. É sempre com relação a uma lei que a liberdade da vontade humana se situa, seja ela a lei eterna a partir de onde a liberdade se origina e se define, seja a lei interna inscrita na própria criação (especialmente na criatura racional, dotada de inteligência e vontade), seja a lei positiva diante da qual ela é obrigada a se posicionar, e perante a qual se mostra insuficiente para o seu cumprimento sem a ajuda da graça. A aporia, neste caso, se põe de manifesto da seguinte forma: como conciliar o dever e o normativo, inerente ao que é mandado por Deus, com uma faculdade que se identifica essencialmente como sendo livre, com capacidade para se autodeterminar sem que nada se lhe imponha de fora?
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