A reflexão sobre o elemento temporal da narrativa é determinante para a compreensão do romance, gênero literário que se constituiu e se desenvolveu à luz de uma nova sensibilidade em relação ao tempo instaurada com o advento da modernidade. Entretanto, falar de tempo é tarefa difícil que filósofos como Platão, Aristóteles, Santo Agostinho enfrentaram bravamente. Dentre os contemporâneos, destaca-se Paul Ricoeur, para quem a experiência temporal apresenta dificuldades lógicas insuperáveis (aporias) que só se resolvem no plano da narrativa. Muito já foi dito sobre a obra de Luiz Ruffato, um dos maiores expoentes da literatura brasileira contemporânea, contudo, as diferentes abordagens evitaram um aprofundamento maior no que tange à interferência da ruptura do tempo ficcional na figuração da subjetividade das personagens. Sem se deixar intimidar pela complexidade da matéria, a autora deste livro se propõe examinar o diálogo que Inferno Provisório estabelece com a tradição literária, demonstrando como o homem está à mercê de uma temporalidade presente, que o faz rever o passado somente como ruína. Para tanto, analisa o entrecruzamento entre os diversos planos temporais e seu efeito sobre a psicologia das personagens, sobre a representação gráfica do foco narrativo e outras tantas experiências formais presentes na obra. Desta análise criteriosa resulta uma excelente contribuição para um novo olhar sobre a obra ruffatiana!
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