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Quem disse foi Machado de Assis, a respeito do seu Ressureição: "Não sei o que deva pensar deste livro; ignoro sobretudo o que pensará dele o leitor". E se cito Machado não é chiqueza, compreendam, não sou erudito (Deus me livre!). É que mal reuni os contos que iam neste curtíssimo volume, veio-me à cabeça a frase e não saiu mais. Mas se não sei o que pensar, sei o que falei. Neste livro estamos nós, leitor, em maior ou menor grau, nós brasileiros, está um pedacinho deste nosso tempo: vês aqui, então, alma, vida e desesperanças, despojos nada doces dos nossos males presentes. Aliás, também me…mehr

Produktbeschreibung
Quem disse foi Machado de Assis, a respeito do seu Ressureição: "Não sei o que deva pensar deste livro; ignoro sobretudo o que pensará dele o leitor". E se cito Machado não é chiqueza, compreendam, não sou erudito (Deus me livre!). É que mal reuni os contos que iam neste curtíssimo volume, veio-me à cabeça a frase e não saiu mais. Mas se não sei o que pensar, sei o que falei. Neste livro estamos nós, leitor, em maior ou menor grau, nós brasileiros, está um pedacinho deste nosso tempo: vês aqui, então, alma, vida e desesperanças, despojos nada doces dos nossos males presentes. Aliás, também me ocorreu Sade: "Muitas das extravagâncias aqui ilustradas merecerão certamente o seu desagrado (...)". Mas não creio que chegue a tanto. Se minhas impressões estão corretas os inspirativos de alguns contos nem se notarão neles; mas se minhas impressões estiverem incorretas, mais que seu desagrado, merecerei, daí, o seu desprezo. Pior: para que se desagradem é preciso antes que achem este livro na barafunda editorial dos nossos dias; achem e disponham-se a lê-lo, coisa que o mais pretensioso dos autores, se tiver um pingo de vida vivida, pode simples e humildemente esperar que aconteça. Os que notarem-se a si mesmos aqui, como notou-se primeiro o autor, estão convidadas à catarse. Descrevendo no papel os fantasmas que o assombram, o autor quis purgar o que viu de mau em si mesmo e compreender melhor o que viu de mau em redor de si. Ajudando-os em coisa similar, considero-me pago, sejam vocês um, dois ou três. Se pelo menos alguns compatriotas ao cruzarem os portões do Paraíso creditarem méritos a este livrinho, talvez Deus, nosso Senhor, tenha de mim piedade; terei feito por alguém, neste vale de lágrimas, alguma coisa.
Autorenporträt
Caio Lincoln, nascido em 29 de novembro de 1990, é cearense. Do Ceará, mudou-se ao Piauí e daí à Brasília, onde vive desde 2003: nunca conseguiu escapar. Não foi aluno de doutores ou mandarins ilustres que deem aparência de brilho a esta biografia; os autores e grandes homens que quis conhecer, não conseguiu (morreram ou, vivos, estão inacessíveis). Não teve, tampouco, uma vida agitada, excetuadas as inquietações do comum das gentes, que são como a história dos povos felizes: narra-se em duas linhas e nada tem de literária. É professor, licenciado em História numa fá-fí-fó dessas que brotam do chão e, como outros tantos de sua geração, está daí habilitado para um cargo que nunca exerceu. Costuma-se dizer nessas biografias o porquê de autor escrever: e escreve porque, primeiro, aos sete anos de idade achou divertido, depois, a caminho dos vinte, porque queria glória (o idiota); depois, percebendo-se, no entanto, meio-cego ao que é a experiência humana, percebendo que até então não vivera, fora vivido, que não era sequer o ator, mas os gestos dele, porque queria narrar o que de substancial havia em si e nos outros. Já hoje escreve sem pretensão alguma. Indagarão, com razão, o porquê de se dar ao trabalho de escrever. Ele talvez seja como aquele vendeiro que abria o botequim às quatro da madrugada e a quem Sérgio Milliet perguntou se tinha freguesia ou não: "Não tem, não" – "Então por que abre?" – "Mania". Melhor ainda, ele talvez siga o exemplo do seu Joaquim, que se batia a cavalo de Campos do Jordão a Itajubá a fim de vender frangos por quase nada; quando perguntado: "Por que não cria os frangos, seu Joaquim? Dá mais dinheiro" – dizia: "Porque eu gosto mesmo é da viagem". Ele escreve, leitor, porque tem lá as manias dele e gosta mesmo é da viagem. Ou da conversa mole.