Que coisa é a alma? De que substância é composta? Como tornar apreensível algo que é sopro, espírito, matéria diáfana? Pois Júlio, generosamente, entrega um mapa de sua alma nesses poemas, na esperança de que os leitores encontrem seus próprios mapas para dentro de si mesmos. A alma é uma cidade, às vezes com prédios em ruínas, insistentes, sonhando com a permanência, nem que seja de uma nesga da memória dos que por ali transitaram. A cada página, a cada poema, o leitor é convidado a percorrer becos, ruas (algumas com ladeiras), praças, avenidas… Não suportando a imobilidade, a alma se rebela contra qualquer gesto de aprisionamento, contra qualquer pedaço de arame farpado. Se insurge até mesmo contra a poesia, que não suporta travessões porque não quer o diálogo. A alma perambula entre passado, presente e futuro como quem procura resquícios de dor e de luz. Mas, será que o corpo vai junto nessa dança? Será que o corpo sonha liberdade? Será que o corpo se entrega ao rio e ao mar com desejo de ser imensidão? Há uma música nos poemas de Júlio. Consigo escutá-la nos movimentos, no ruído e no marulhar, no vento que sopra sobre a palavra seu bafo morno de vida. A poesia-música de Júlio é feita de som e silêncio, tem uma gradação de cores que vão do pálido cinza até o laranja crepuscular. É assim que vejo e escuto essa poesia. Sinestesia pura. A recorrente metalinguagem nesses textos e o uso de neologismos revelam o desejo do autor de fazer do poema um objeto lúdico, na certa, para mostrar que somos homo ludens mais do que homo sapiens. E nada escapa ao olhar crítico dessa alma peregrina de si mesma, inclusive, quando coloca em cena os sujeitos que se perdem nas redes sociais da vida, que esquecem de saborear a comida para melhor mostrá-la, que se tornam simulacros de si mesmos nas insistentes selfies, que se perdem numa viagem dentro de uma tela, seja do celular, seja de um computador. Ah, caro Júlio! Que esse livro possa fazer muitos leitores abandonarem urgentemente os espaços fechados em que se meteram, sabe-se lá por quê, e se lancem nas avenidas largas e infinitas da Alma. Claudicélio Rodrigues, Professor de Literatura Brasileira, UFC