Nas águas de Ver navios (2007), este livro acolhe a mesma diversidade de formas breves. Os escritos (ao autor repugna a palavra "textos") vão desde contos e crônicas, passando por poemas piadas ou poemas em prosa, até poemas tout court, sem prosa. O diálogo com Ver navios não é apenas genérico. Assim, "Fantasia coral" replica "A truta" schubertiana do outro livro... O que talvez não se reproduz inteiramente é o estado de espírito do eu lírico-narrativo. À semelhança do primo mais velho, "Banho-maria" ("O chiado não cessa. Mas basta controlar a pressão. Um suspiro e iria tudo pelos ares. Muito sábia a senhora minha avó. Viveu de chaleira na mão e um dia evaporou. Que Deus a tenha! que a chaleira está entre nós") também serve de expressão à fisionomia geral do livro (captada com perspicácia pela ilustradora, Polyana Canhête, a qual converte a velha chaleira do escritor em outra ancestral sua, uma máquina de escrever, evidentemente avoenga). O eu épico-lírico se abre agora em compasso de espera ("Oriente próximo"), mas compasso tenso, a que não faltam ameaças de explosão ("Cuíca" ou "Jornal Nacional"), e até mesmo explosões ("Justa causa" ou "Iluminação pública"). O curioso, para não avivar eventual morbidez, é que, com estoutra "antologia" (de flores funéreas?), o escritor parece querer deslocar para o centro do seu trabalho um gênero típico de espólio literário, a "miscelânea".
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