Apesar de ser o cientista social brasileiro mais citado em teses, estudos e ensaios acadêmicos, Roberto DaMatta não se deixou aprisionar pela vida universitária, efetuando em paralelo um movimento de difusão do conhecimento junto ao grande público leigo por meio de sua atividade como cronista. Brasileirismos, seu novo livro, é precisamente uma seleção das crônicas que publica em jornais de circulação nacional, como O Globo e O Estado de S. Paulo. O subtítulo corresponde às três divisões do livro ("Além do jornalismo", "Aquém da antropologia" e "Quase ficção"), sendo bastante exato e descritivo, já que DaMatta não é, nem poderia ser, um cronista comum. Mesmo porque ele tem em sua bagagem a sólida formação e o instrumental da antropologia. Mas, por outro lado, quando escreve para a imprensa, ele não usa o jargão da antropologia nem emprega um tom professoral. Faz justo o contrário: busca ser acessível ao leitor comum, sem jamais reivindicar para si a última palavra ou o vaticínio irrefutável. Assim, as crônicas de Brasileirismos não são didáticas nem doutrinárias. Longe disto, dialogam com o leitor de igual para igual e deixam inclusive espaço para o humor e a imaginação, que resvala para a "quase ficção" mencionada no tripé estilístico anunciado no subtítulo. Brasileirismos reúne 130 crônicas escritas nos últimos cinco anos e em nenhuma delas existe qualquer ranço acadêmico ou professoral, pois DaMatta basca a comunicação efetiva e total com o leitor, chegando a evocar episódios da própria infância e juventude, ou dos primeiros anos como antropólogo em aldeias indígenas como um simples escritor memorialista. Contudo, tais evocações não são meramente nostálgicas nem autólatras e sim ditadas pelo anseio de acessibilidade e de identificação com o leitor.
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