O engenheiro André Rebouças é um dos mais importantes intelectuais negros do século XIX. Foi parte da vanguarda do movimento abolicionista junto a outros ativistas negros e livres, e figura de ligação do movimento social com o mundo político oficial. Liberal monarquista, notabilizou-se na defesa de projetos para a modernização do país, entre os quais se incluíam a abolição da escravidão sem indenização aos "proprietários" dos escravizados, o estímulo à imigração, o acesso à terra pelos recém-libertos e a democratização da propriedade fundiária. Durante quase toda sua vida adulta, Rebouças manteve um diário. Quando deixou o Brasil após a queda da Monarquia, passou também a transcrever as cartas que escrevia no exílio. Poucas dessas cartas foram publicadas em livro, junto a edições de parte dos diários. Entre 1891 e 1893, André Rebouças realizou uma surpreendente viagem de circum-navegação da África. Nesse período, copiou a mão, em seus cadernos de correspondência, 193 cartas que teriam sido enviadas a 26 correspondentes. José Carlos Rodrigues, então proprietário do Jornal do Commercio, Alfredo Taunay, Joaquim Nabuco e o próprio imperador estão entre seus interlocutores. As cartas reunidas em Cartas da África: registro de correspondência, 1891-1893 iluminam a leitura que Rebouças faz de acontecimentos políticos no Brasil e na África - da campanha abolicionista e do golpe militar que levou à proclamação da República aos embates ocorridos no período e à tumultuada conjuntura da expansão europeia na África austral. Permitem acompanhar o sofisticado pensamento racial do autor, levando a um público mais amplo a importante discussão sobre silêncio e racismo institucional no Brasil.
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