Che Guevara foi umas das mais importantes personalidades políticas do século XX. Como lembra Michael Löwy, o "guerrilheiro heroico", depois de assassinado em 1967, "transformou-se em lenda. Sua imagem, seu rosto, suas ideias percorrem campos e favelas da América do Sul, universidades e manifestações dos Estados Unidos e Europa. Estudante de medicina, combatente na Sierra Maestra, presidente do Banco Central cubano, teórico militar, ministro da Indústria, sua vida foi fulgurante e meteórica. O caráter extraordinário dessa vida explica o mito de aventureiro romântico, Robin Hood vermelho, Dom Quixote do comunismo, Saint-Just marxista, Cid Campeador dos condenados da terra e dos guetos, Cristo laico, San Ernesto de La Higuera, venerado pelos camponeses bolivianos, 'incendiário vermelho' acendendo por toda parte as brasas da subversão. Mas o sistema que tenta recuperar o mito não consegue 'digerir' o revolucionário. Por trás da aparência mítica, o que realmente ilumina e dá sentido à vida do Che é a total coerência entre teoria e prática, palavra e ação. Só à luz dessa coerência se pode compreender a decisão oposta à noção habitual de estadista de trocar um cargo ministerial em Cuba pela guerrilha boliviana, visando romper o isolamento da Revolução Cubana e abrir uma segunda frente em favor do Vietnã". Após lutar no Congo, Ernesto Che Guevara combateu na Bolívia, onde já estivera em sua juventude, em meados de 1953. Em 8 de outubro de 1967, foi capturado por uma unidade dos rangers locais (treinados por instrutores militares norte-americanos) e, no dia 9, assassinado no pequeno povoado de La Higuera. Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia, do historiador Luiz Bernardo Pericás, é uma investigação profunda e detalhada sobre os aspectos da vida política, econômica e social da Bolívia nos anos 1960 e a guerrilha naquele país. Com ampla bibliografia atualizada e rigor acadêmico, o autor discute a trajetória do Che na luta guerrilheira na Bolívia, a partir de entrevistas com camponeses, políticos e intelectuais bolivianos (incluindo um militar, o general Gary Prado, na época dos acontecimentos ainda capitão e o oficial responsável pela captura do Che), livros e documentos (alguns dos quais, inéditos no Brasil). Como afirma o historiador e professor da USP, Osvaldo Coggiola, "a obra que nos apresenta Pericás é uma pesquisa que procura esmiuçar as circunstâncias históricas e políticas que envolveram o desaparecimento do revolucionário cubano-argentino Ernesto 'Che' Guevara. Sem a pretensão de ser biográfico, o livro mergulha profundamente no universo criado em torno à figura do Che, sua relação com mineiros, camponeses, partidos e personalidades da época, investigando, inclusive, a influência dos acontecimentos no imaginário popular e na sociedade boliviana atuais. Pode-se aceitar ou não a definição de Jean-Paul Sartre: o Che foi o maior ser humano do século XX. Em qualquer hipótese, ela está mais perto da verdade do que a sua canonização, sua transformação em 'mito'. Este livro tenta exatamente ir além da aura mítica e redescobrir o significado histórico e político do Che". A obra também perpassa um contexto mais amplo, como o período em que Guevara esteve no Congo, o tempo que passou na clandestinidade na Tanzânia e Tchecoslováquia, seu retorno a Cuba, seu treinamento na ilha e sua ida à Bolívia. O texto é também rico em detalhes sobre a atuação do Exército de Libertação Nacional (ELN). Conta ainda com capítulos que narram o que aconteceu com os diários do Che após sua execução e a continuidade da luta revolucionária (guerrilha de Teoponte). Nos anexos, o leitor encontrará vasta documentação relacionada ao tema.
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