Por que fazemos escolhas que sabemos não ser as melhores? Por que parecemos aquilo que não somos? O poeta alemão Heinrich Heine cunhou o termo maskenfreiheit, intraduzível no português, que sugere a liberdade conferida pela máscara. E o narrador das quatro histórias deste livro é um eu disfarçado, à escuta. Quem fala são as mulheres, e as poucas intervenções masculinas não passam de ruminações de perplexidade diante do fascínio exercido por elas. Helena é casada com um homem obcecado pelo herói e mártir traído da liberdade nacional. Sua vida conjugal é entediante até ela se envolver com um colega. A professora de balé carrega as dores de um passado quase glorioso e do relacionamento com o filho de um conhecido líder comunista do país quando integrava o corpo de baile de um famoso balé russo. Mariana é uma jornalista às voltas com o assédio do chefe e dois casamentos fracassados. Maria deixa seu marido em casa para se jogar numa aventura imprevisível à beira-mar com um homem que ela mal conhece. Em comum, elas revelam-se presas de armadilhas emocionais, confusões amorosas e as contradições de seus desejos. Com senso de humor e domínio de deslocamentos e ressonâncias temporais, André Nigri interroga, na ficção de enredos tão imprevisíveis quanto a falta de sentido da vida, disfarces e insinuações. Nada é inteiramente nomeado, como se o autor convidasse o leitor para decifrar os segredos por trás das intrincadas relações. O que essas ficções propõem é um jogo amoroso, onde as peças sobre o tabuleiro são volúveis e sorrateiras. À menor desatenção, uma delas pode escapar.
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