Humberto Henriques trabalha este texto a partir da existência, porquanto insípida, do desenho animado proposto pela televisão americana. A dimensão do texto vai muito além dessa simples paisagem, embora ela seja utilizada para caracterizar um mundo que tem já a sua ideia fixa, a perseguição imoderada e os resultados sempre elevados a uma potência milionésima de certezas infrutíferas. Esse romance é absolutamente dissociado de qualquer convenção e de história, desliza com facilidade pelas intempéries de um mundo abissal, desafiando a própria eternidade e o desconhecimento da possível presença de Deus num universo campeado pelo non-sense. Uma leitura cheia de paradoxos e de desvios inesperados, não seria nada assim tão absurdo que o bicho mau ganhasse essa corrida em busca dos elementos mais pungentes e pujantes da via existencial. Trata-se de um caos organizado a partir da convenção das telas de televisão, quando o dibujo se torna cansativo em demasia se visto por mais de duas vezes. A clássica emancipação dos efeitos, toda a esperada melancolia final, tudo que não pode ser transfigurado para outros meios e fins, a história inteira que se perde sempre no talo disforme das formas amorfas. A dizer de outro modo, aqui a ciência perde para o azar. Sendo assim, Coyote e Papa-Léguas é um dos maiores romances escritos neste século. Diante disso, é preciso conferir tudo que o romance tem. Arte explícita, certamente.
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