Talvez o maior desafio para quem escreve prosa seriamente, como é o caso de Sergio Papi, seja explorar o tempo. Pois se é razoavelmente claro que o tempo é uma convenção apenas prática, que as sequências lineares não existem, que para cada causa há infinitas consequências, a possibilidade de expressar essas múltiplas dimensões é ainda um grande problema. Mas Papi joga, brinca, seduz e dribla com o tempo, senão dribla o próprio tempo. Seguimos o que é aparentemente um mesmo personagem - possivelmente desdobrado em inúmeros duplos de si - projetando-se para o futuro, o passado e desdobrando infinita e especularmente o presente. A ciência e a magia convergem, centrípeta e centrifugamente, em tramas breves que, apesar de desafiarem a lógica clássica, sempre acabam fazendo sentido. O anúncio de horror que o título sugere não diminui completamente ao longo da leitura, mas ganha uma perspectiva diferente. Quem sabe a Terra já esteja destruída, quem sabe sua destruição seja não mais que imaginária, quem sabe os tempos que nela convivem não nos redimam da destruição. Ninguém sabe nada. E é por isso que é bom ler. Por isso a literatura, ao borrar livremente as fronteiras entre sanidade e loucura, permite que os tempos e o eu se ativem de outras formas. E nisso Sergio Papi é imbatível. Noemi Jaffe
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