O humor é, se não o mais difícil, pelo menos um dos mais difíceis gêneros de expressão literária. Quer ele se manifeste na prosa ou na poesia, no drama ou no romance, no ensaio ou na crônica, apresenta problemas que só com muito engenho o humorista consegue superar - com engenho, mas não com arte, já que a sua engenhosidade não é uma técnica que se possa aprender. Até mesmo a poesia oferece um arsenal de processos e padrões que o poeta pode manusear nos momentos de menor inspiração. E o humorista? Há tratados sobre a arte da poesia, do romance, do teatro - mas alguém já ouviu falar de um manual sobre a técnica do humorismo? Há, sim, ensaios sobre a sua essência filosófica - será ele pessimista ou otimista? -, sobre seu caráter ético - o humorista toma por objeto a si mesmo, ou a sociedade? -, sobre as suas manifestações neste ou naquele escritor - Machado de Assis e o Sterne de Tristram Shandy são os exemplos óbvios. Nunca, porém, foi possível descrever uma técnica, um processo para fazer humor. Nem mesmo os americanos, que têm cursos sobre como escrever qualquer coisa, conseguiram alguma vez organizar um sobre esse gênero. E isso simplesmente porque o humor é antes de tudo uma manifestação espontânea - mais do que o do poeta, o talento do humorista é inato, e não cultivado. Humor, sátira, paródia combinam-se nos textos desse humorista autêntico que é Dirceu, e que, sendo realmente digno desse nome, não só faz rir, como também nos leva a pensar. Basta examinarmos alguns de seus temas para percebermos a sua seriedade: educação moderna, o cotidiano com suas pequenas angústias e absurdos, a ilusão da Justiça, a violência e a insegurança, entre outros.
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