A escrita de Andrey Melo é visceral. Antes, entretanto, que essa afirmativa seja confundida com um clichê, é necessário dizer que não nos referimos aos tempos estranhos que nos trazem o coração frio e embalsamado do colonizador, mas às vísceras quentes de suas ainda vítimas. Em Dois Cárceres, a desigualdade brasileira é desventrada por Melo sem economia de tintas em alguns de seus mais graves aspectos. Desde a picada da cobra cruzeira, assistimos a personagens mortos e mutilados por um país que não consegue retirar de seu futuro o passado, o ataque ofídico bem simbolizando os botes dos poderosos que não cessam de emboscar os descalços brasileiros. Os grilhões coloniais ainda não foram rompidos. E o que é pior, como bem denuncia Andrey: foram habilmente inoculados na subjetividade daqueles a quem historicamente aprisionaram. São muitos cárceres, cárceres superpostos na profecia que se autocumpre por meio de personagens que, não importa o quanto caminhem, terminam encontrando seu destino tais quais fantasmas, entre os ausentes. - Domingos Barroso da Costa
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