... Num dos dias daquele março, lá fora, a calçada tremia sob um sol de quarenta graus, antes da chuva da tarde. Sentado confortavelmente a uma poltrona, pernas cruzadas, numa antessala qualquer, cidadão refestelava-se no ar refrigerado. Trajava paletó e calça marrons. Usava chapéu de feltro claro e sapatos lustrosos. Tinha um ar de superioridade que os da terra não têm, e folheava, indolentemente, meio com nojo, um jornal do lugar. De repente, algo lhe chamou a atenção e ele ficou um bom tempo a ler e a analisar alguma coisa talvez interessante. Do alto da sua omnipotência, então, dirigiu a palavra ao caboclo que se encolhia no canto de um sofá: - Amazônicos não fazem versos e acreanos sequer sabem o que vem a ser prosa. Esta crônica não pode ter sido elaborada por alguém daqui. Isso é coisa de gente do sul, ou do sudeste. Está um primor. Ao que o interlocutor, agora com o peito estofado, falou grosso: - Moço, apesar do seu preconceito, devo lhe dizer que o autor dessa crônica é de Xapuri, e eu conheço por aqui umas dúzias de outros acreanos que fazem coisas iguais ou até melhores. Pois bem. Dois raios de sol e meio palmo de lua traz a fórmula básica usada pelos da terra. Há simplicidade, antes de tudo. É a história compacta em pedaços separados de partes de uma vida. Nas próximas páginas, há singeleza, ironia, sutileza, picardia, torneios sintáticos, sarcasmo e deboche em boa medida, figuras de estilo e retórica, tudo, num sotaque marcadamente amazônico a perder de vista.
Dieser Download kann aus rechtlichen Gründen nur mit Rechnungsadresse in A, B, BG, CY, CZ, D, DK, EW, E, FIN, F, GR, H, IRL, I, LT, L, LR, M, NL, PL, P, R, S, SLO, SK ausgeliefert werden.