Para passar do senso comum à consciência filosófica é necessário cultivar, de algum modo, a erudição. Mas a palavra erudição remete a um duplo e ambíguo significado. Por um lado, expressa um saber amplo e detalhado, sendo o erudito alguém que domina os pormenores da ciência ou arte que cultiva. Por outro lado, reporta-se a um sentido depreciativo, significando uma multiplicidade de conhecimentos que não se articulam orgânica e criticamente. Por esse aspecto a erudição opõe-se à cultura, sendo entendida como um saber gratuito, descolado dos efetivos modos de pensar, agir e sentir que definem a cultura. Essa ambiguidade está sugestivamente retratada na aquarela O erudito de Jean-Baptiste Debret. Diferentemente, o quadro de Rembrandt, reproduzido na capa, permite-nos visualizar luminosamente toda a seriedade e circunspecção próprias da erudição, enquanto trabalho meticuloso que se empenha em apreender as particularidades e as múltiplas relações que caracterizam o objeto tomado para análise. Eis aí a mensagem que o presente livro pretende passar aos leitores.
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