O ponto de partida deste livro é a constatação de Ellen Meiksins Wood de que a democracia contemporânea não pode enfrentar a exploração de classe. A historiadora e teórica política estadunidense propõe analisar a relevância da política como instrumento de dominação social e o lugar dos conflitos especificamente políticos na superação da dominação de classe. A proposta é aprofundar os esforços do historiador Edward Palmer Thompson para pensar classe como relação e processo e ampliar o conhecimento sobre o papel político da classe operária na constituição da Democracia Substantiva. Em tempos de apego aos elementos discursivos e da crescente redução da luta política em pautas meramente identitárias, conhecer a produção de Ellen Wood permite retomar um debate que tem sido interditado: a situação de classe permanece como elemento unificador de experiência e, em "determinadas condições históricas, situações de classe geram formações de classe". É a experiência, como efeito das determinações objetivas - relações de produção e exploração de classe -, que reúne grupos heterogêneos. Esse entendimento traz uma nova possibilidade de refletir a relação classe e democracia em tempos de acumulação flexível e de teorias que suportam análises fragmentárias do mundo. Com a separação da condição cívica da situação de classe, a liberdade civil do trabalhador é neutralizada pelas pressões econômicas do capitalismo, o que limita as possibilidades de um efetivo "governo do povo". Por exemplo, a igualdade de classe é muito diversa da igualdade étnica ou de gênero, pois, em certo sentido, a igualdade formal pode ser extensível para diferentes grupos étnicos ou de gênero sem ameaçar o sistema capitalista - o mesmo não ocorre com a igualdade de classe. Assim, respeitar a pluralidade da experiência humana não pode significar "a dissolução da causalidade histórica". Desse modo, o "mal-estar" global em relação à democracia representativa não pode ser visto apenas pelo prisma discursivo e do arranjo das instituições políticas representativas, mas, ainda que pareça tabu, é fundamental compreender que as relações de produção distribuem os indivíduos em situações de classe que instituem relações assimétricas de poder econômico e político. Tal assimetria alimenta o capitalismo, mas, também, impede um regime substancialmente democrático.
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