Na noite de 16 de janeiro de 2022, meu irmão Lilio e eu falamos longamente ao celular, como fazíamos todas as noites. Nos despedíamos sempre com um "A domani!", como a garantir que haveria um domani. Naquela noite, Lilio estava muito abatido: fazia um ano que sua esposa, Maria, havia partido, e era forte a saudade dela. Na manhã seguinte, veio a notícia de sua morte. Palavras de pedra, irremediáveis! Lilio havia ido ao encontro de Maria, talvez por isso o vago sorriso estampado em seu rosto petrificado. Ao segurar longamente suas mãos já frias entre as minhas, senti que nascia este livro, e que seria escrito por nós dois. *** Dois irmãos, um deles em seu último ano de vida, conversam sobre seu passado, recuperando momentos emblemáticos de suas existências, tanto na Itália, quanto no Brasil. Ao lado das esperadas nostalgias, o texto sangra abundante quando a figura do pai ganha protagonismo. Com ações desprovidas dos mais elementares escrúpulos de consciência, o mandante decide e governa, de forma bruta e desumana, o presente e o futuro dos filhos. Em um clima de última oportunidade, os irmãos explicitam sentimentos amargurados, provocados por um homem que, sem nenhum compromisso com a coerência de suas decisões, impõe obediências que marcarão a alma e o destino de ambos. Relato pungente, em crua e invejável linguagem, numa clara manifestação catártica, num clima de uma longa sessão de psicoterapia. Leitura terrificante de exigente solidariedade.
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