Eu vivo entre o Real e o Ideal. Desde as minhas primeiras memórias, fui atravessado por dois polos: o Ideal e o Real. Assim se deu a construção de parte da minha subjetividade, por meio desses dois extremos antagônicos e paradoxalmente complementares. Foi deles que sempre me alimentei durante toda a minha existência. Hoje, na fase que costumeiramente designamos adulta - tinha razão Freud quando disse "a criança é o pai do adulto" -, continuo entorpecido ininterruptamente pelo Real e o Ideal, as duas dimensões que contribuíram para a construção da minha psique. Desse modo, sou uma unidade que comporta uma duplicidade, uma complexidade, formada por incontáveis dobras, a minha (im)penetrável topografia. Tenho a nítida impressão de que acordei sonhando e desde então sonho acordado. Desse modo, apaixonado pelos sonhos e desiludido com a realidade, passei a construir utopias, moradas, topografias que não existem, pois a minha crença em um lugar que não existe tornou suportável habitar o topos, o lugar que existe. Entretanto, chega o momento em que a realidade por si mesma se impõe e, ainda que ela tenha essa força, eu não deixarei de ser sonho e realidade, ideal e real, continuarei a transitar entre esses dois polos, que apesar de antagônicos são complementares, pois tanto um como o outro cabem e estão dentro de mim. Portanto, há uma parte de mim que insiste em sonhar e outra que impiedosamente me desperta.
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