Não posso silenciar diante deste revoltante genocídio que se abate sobre o Brasil, com o assassinato de meninos e meninas, diariamente, em cidades e localidades onde são realizadas operações policiais em combate com traficantes e bandidos de toda ordem, dizem eles, atingindo, em geral, crianças que vão ou voltam das escolas. Enquanto trocam tiros, não poupando rifles ou metralhadoras, esses grupos sacrificam gerações inteiras, sobretudo os mais pobres e miseráveis, que derramam o sangue nesta guerra desproporcional. Possuído de uma dor crescente e cada vez mais dilacerante, resolvi escrever estas histórias que, em sua maioria, me chegam através do choro de pais e parentes, debruçados sobre corpos dilacerados. Muitas vezes ainda marcados pela ironia e pelo riso de pessoas que se consideram acima da lei e, espantoso, acima do humano. Escrever estas histórias talvez tenha sido a atitude mais dolorosa que enfrentei nesses meus setenta anos de vida. E, é claro, na minha carreira literária. Estou cansado, mas ainda assim acredito que minha obra, de alguma maneira, contribuirá para o fim desta guerra de bandidos, que só mata crianças e dizima uma geração de brasileiros. Neste livro dou continuidade às "Cartas ao Mundo", iniciadas no livro As sombrias ruínas da alma, ganhador do Prêmio Jabuti, onde aparecem as três primeiras, que explicitam a minha determinação de denunciar sempre as crescentes injustiças e agressões sociais no Brasil.
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