O livro Faz-se tudo por amor, inclusive morrer realiza uma análise documental de relatórios de pesquisa sobre Relações de gênero, feminismos, sexualidade, vulnerabilidade e, a feminização da epidemia do hiv/aids em Belém, coordenado por Ana Cleide Guedes Moreira (UFPA) no Hospital Universitário João de Barros Barreto entre os anos de 2010 e 2012. A mortalidade entre mulheres infectadas naquele período já superava a de homens no Pará e no Brasil, e, no que foi possível escutar nesse ínterim, diversos signifi¬cantes indicavam tencionar dois dos grandes temas relativos à castração: amor e morte. Nas palavras de algumas delas: "nunca imaginei [que contrairia o vírus], porque foi o primeiro homem da minha vida e com quem casei". Ou mesmo: "quando eu me apaixono, eu caio de cabeça na piscina. Não quero saber se está cheia ou vazia" e "enquanto há amor, há fogo". Nota-se que nem mesmo o uso ou não do preservativo é mencionado, mas, sim, a recorrente referência a um ideal de amor romântico narcisicamente frustrado em sua versão protetora. É justamente a este jogo discursivo, revelador de práticas e delineador de todo um problemático emaranhado simbólico, que o autor pretende se deter. Portanto, é a partir do que se verifi¬ca na experiência em pesquisa voltada para esse campo que se torna necessária uma revisão crítica do amor romântico como ideal, pois nele se verifi¬ca a ilusão de uma satisfação narcísica pela via da completude, aliada ao imaginário cultural de que o amor salvaguardaria o sujeito dos males da existência.
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