A noite estava quente e, irritado, Dante Loredano saiu de seu quarto em busca de ar fresco na sacada. Mas o que encontrou foi outra coisa, ou melhor, alguém: na sacada ao lado, um homem se apoiava na balaustrada e olhava intensamente a grande avenida. Intrigado com o vizinho, conjecturava que vida levava, quem era, se era casado, se tinha filhos. No dia seguinte, o olhar que ontem o ignorava e agora o inquiria. Iniciava-se ali uma relação na qual ambos, por meio de conversas e debates incessantes, desnunadariam os personagens que, interligados, fariam parte de uma revolução que mudaria o status quo. O vizinho se chamava Federico, Federico Nietzsche. Federico em sua sacada é a última obra escrita por Carlos Fuentes, morto em maio de 2012. Lançado postumamente, o romance é o testamento literário de Fuentes. No romance, Fuentes representa um diálogo entre os dois vizinhos com nome e sobrenome sugestivos. Dante, como seu homônimo em A divina comédia, é guiado por Federico por histórias de pessoas que, de alguma forma, representam forças sociais em choque numa cidade a ponto de explodir em uma revolução violenta contra o poder econômico e militar de uma elite corrompida. Federico em sua sacada é uma obra sofisticada e dialética, um romance cheio de simbolismos, no qual as ações e os personagens refletem conceitos fundamentais do pensamento do filósofo alemão Friedrich Nietzsche: a moral metafísica e socialmente estabelecida nada mais é do que uma máscara que esconde uma realidade ameaçadora e inquietante.
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