O livro que ora apresento dá prosseguimento, ampliando o escopo, aprofundando e modificando parcialmente, as teses hermenêuticas contidas em obra anterior de Francisco Verardi Bocca, intitulada Do Estado à Orgia. Ensaio sobre o fim do mundo (Curitiba: Editora CRV, 2016). Em ambos os livros, Bocca traz à tona, a partir de uma interpretação original do legado filosófico do materialismo moderno, especialmente de Hobbes, Locke, Condillac, La Mettrie, Helvétius e Sade, tanto os elementos matriciais do Estado moderno, quanto os germes de um conflito autodestrutivo que pode levar a uma apoteótica destruição tanto do gênero humano quanto dos demais seres vivos, e da natureza em geral. Filosofia entrópica centra o foco de suas análises num exame acurado da obra do Marques de Sade, que Bocca converte em ponto de apoio para indagações de extraordinária densidade, que convocam o pensamento para tarefas incontornáveis, não só por razões de interesse histórico, mas também por sua atualidade e urgência. São questionamentos que acompanham de perto as indicações recebidas da extraordinária perspicácia analítica de Jacques Lacan, a saber, a percepção - e o exame filosófico em amplo fôlego de suas consequências - de surpreendentes convergências entre as obras de dois luminares da modernidade cultural, que situados em pontos simetricamente opostos, em aparência, do espectro ético-filosófico: o rigorista moral Immanuel Kant e o famigerado libertino do século das Luzes, o Marques de Sade - convergências problemáticas, que Bocca expõe e explora produtivamente neste livro.
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