Nascido no Japão, criado no Brasil (entre Pará, São Paulo e Rio de Janeiro) e desabrochado na França (país em que vive há mais de cinqüenta anos), Flavio-Shiró, de onde a vista alcança, é dessas figuras raras, como artista e ser humano. Não é apenas um dos mais catárticos pintores em atividade no país, como é dos poucos a usar a obra para transmitir conceitos sobre arte e idéias acerca dos homens e seu estado de coisas. Quem observa suas pinturas e desenhos tem diante de si uma obra densa, por vezes incômoda, porque (em algumas fases) repleta de imagens retiradas ao inconsciente, o que resulta em algo perturbador; e quase sempre poética, por conta de uma paleta incandescente (ao clivar tons neutros com cores quentes, como se irisasse seus traços). É possível ainda ter um outro ponto de observação de sua obra, quando o espectador se mune de um espírito narrativo e o aplica à sua pintura. Saltam desde pastorais, com suas prosódias encantadoras, e seus solos de ingênua candura, como assomam corpos tomados por angústias abissais, atávicas e intransponíveis, dentro de um coro lancinante, próximo aos trovões enunciados por Beethoven.
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