Era uma vez uma menina de Resplendor que pousou no clube de uns meninos de Belo Horizonte e juntos plantaram girassóis da cor do seu cabelo para sempre no coração da Música Popular Brasileira. O livro Histórias de Outras Esquinas, de Duca Leal, contém o relato inédito e especial dessa garota que um dia, aos 15 anos, abraçou e foi abraçada pela trupe talentosa que ficaria conhecida como Clube da Esquina (Milton Nascimento, Fernando Brant, Lô Borges, Beto Guedes, Márcio Borges). Duca testemunhou os discos surgirem, dançou descalça nas noites em que as canções foram criadas, ouviu violão sentada nas ruas de pedra de Diamantina, passou tardes deitada na cama com Milton Nascimento, o Bituca, assistindo TV com as crianças. Angustiou-se com o terror da ditadura, o cerco às liberdades políticas e comportamentais, sonhou uma utopia de desenvolvimento com o conterrâneo JK, descobriu que a maldade humana também se esconde nos lugares mais imprevistos. Sua visão da história, entretanto, nunca recebeu a devida atenção até agora, como é de praxe quando se trata do ponto de vista feminino. O Brasil vivia a hipnose da Copa de 1970 quando isso tudo aconteceu, e Duca, com sua sensibilidade de menina, foi uma das personagens que contribuíram para que os sonhos não envelhecessem. Foi casada com o poeta daquele grupo que balançou para sempre a MPB, Márcio Borges, ela tem agora filhos e netos, mas carrega em sua literatura e na memória as fagulhas da musa que não apenas inspirou canções eternas, mas que dedicou seus afetos e sua compreensão para que um mundo que parecia exclusivamente masculino se tingisse de intuição e premonições.
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