Para Tolkien, no centro dos problemas da modernidade está a relação de poder que a humanidade estabeleceu com o mundo natural, uma relação mediada pela tecnologia. A obra tolkieniana questiona as bases dessa nova forma de tirania e teve papel importante na gênese de movimentos como o ambientalismo, que tentam evitar que tal abuso em última instância, contraproducente para a própria humanidade acabe se aprofundando. Apoiando-se no material autobiográfico representado pelas cartas de Tolkien e em importantes teóricos da literatura e das ciências sociais, Paulo Cristelli deixa claro que a ficção tolkieniana brota, na verdade, das grandes crises do século XX: as guerras mecanizadas, os genocídios em escala sem precedentes e a destruição ambiental acelerada pelas sucessivas fases da Revolução Industrial. A tecnologia não aparece de forma explicita na obra - já informamos que a Terra Média é ambientada em um mundo mítico, pré-capitalista, ou seja, não é possível pensar em tecnologias avançadas existindo em um mundo assim. Mas ela está lá, enquanto representação. A máquina não é só a máquina, nem nas cartas de Tolkien, nem em sua obra, ou em seu contexto, elas são, ao mesmo tempo, a representação e a concretização de um processo de mudança social, cultural e política, e é dessa forma que o livro analisa a obra de Tolkien: como uma crítica a tais mudanças, seus impactos e intenções.
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