Discute-se, ainda nos dias de hoje, se caberia ao psicanalista ocupar-se de um bebê ou dos laços primordiais em construção. Ou, ainda, se ao realizar uma intervenção nesse campo, se trataria de uma intervenção psicanalítica, já que a prática clínica se dará inevitavelmente fora do setting habitual. O que define a psicanálise, todavia, não é a repetição engessada de um setting, mas, sim, a capacidade criativa daquele que tem a subjetividade e os processos inconscientes de pensamento como elementos fundamentais para a compreensão dos fenômenos humanos, na busca de construir settings que possibilitem seu trabalho, de forma a respeitar a peculiaridade do sofrimento humano, na ética e na lógica, da linguagem e do desejo, a partir dos processos inconscientes assim determinados. A clínica psicanalítica no laço mãe-bebê, historicamente nova, que não se encaixa nos enquadres clássicos sugeridos por Sigmund Freud, por sua vez, tem mostrado sua importância em relação a sofrimentos de toda ordem, que podem atravessar o enlaçamento primordial e a vida subjetiva de um bebê. Mais do que isso, tem mostrado sua contribuição para a construção da parentalidade por parte de seus cuidadores, o que - sabemos - exige intensa transformação e elaboração inconsciente a partir das suas vivências primordiais e transgeracionais que farão desse bebê o herdeiro legítimo de uma saga familiar, simbólica e cultural.
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