E agora, o que faço da minha vida? Eis a questão que atormenta um ilustre músico durante uma viagem noturna na sacolejante diligência que vai de Viena para Salzburg. Estamos em 1785 e, perante dois ouvintes adormecidos, o músico rememora seu percurso como pai de um prodígio. Ele quer mostrar ao juízo da História que sempre proporcionou o melhor para o filho, quis fazê-lo o maior compositor da Europa e quando se dá conta de que o filho já atingiu essa condição, vê diante de si apenas um vazio e uma vertigem. Este livro não é uma biografia de Leopold Mozart, mas, sim, uma apaixonante novela, em que o autor, depois de anos de pesquisa e muita reflexão, traz-nos o que poderia ter sido esse ser humano e artista que experimentou a ventura e a vertigem de ser pai de um gênio inconteste da arte. Homem que dominava todas as áreas do saber, católico fervoroso e iluminista, erudito, escritor, pedagogo, músico reconhecido por seus pares, mas que passou à posteridade, sobretudo, como o pai de Wolfgang Amadeus Mozart, Leopold ganhou fama ambígua. Os estudiosos sabem que possuía luz própria e, principalmente, conhecem seu decisivo papel na formação intelectual e musical do filho. O grande público, ao desconhecer esse fato, é levado a concebê-lo como uma figura autoritária, circunspecta e egoísta. Talvez tenha um pouco dessas qualidades, sim, mas temperadas por um grande amor a Wolfgang, a ponto de voltar seus esforços para o ensino do filho e abrir mão da carreira de compositor a partir do momento em que Wolfgang deu mostras de uma precocidade que ainda hoje maravilha o mundo.
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