Carlos Trigueiro é um grande contador de histórias, sejam longas - como a do Livro dos desmandamentos -, ou curtas, como as dos contos em O Clube dos feios, O Livro dos ciúmes e Confissões de um anjo da guarda. Em Libido aos pedaços, exibe mais uma vez esse talento ao desnudar o envolvimento do personagem Otávio Nunes Garcia com a própria psicanalista, Dra. Larissa Pontes, irmã de sua mulher. O resultado é um romance ágil e de final surpreendente. Trigueiro reúne, em tom forte e envolvente, a paixão, o ciúme e a mentira como ingredientes devastadores da consciência. "Este romance maturou doze anos, teve vários títulos e construções, e também consumiu pelo menos oito anos de trabalho em várias versões escritas, restruturadas e reescritas", explica o autor, que inicia o livro com a epígrafe de Nelson Rodrigues "Quem nunca amou a cunhada não sabe o que é o amor". O fetiche da cultura universal serve de fio condutor para o romance. Em Libido aos pedaços, a obsessão pelas cunhadas aparece em resumos da mitologia grecoromana, em citações milenares da Bíblia, e em fatos históricos envolvendo a cultura russa, francesa, austríaca, ou lembrando aspectos da cultura chinesa e árabe. "O personagem Otávio diz claramente que até mesmo Sigmund Freud teve uma cunhada extraordinária: Minna Bernays. Secretária e, tão dedicada, que nunca se casou só para acompanhá-lo em viagens de pesquisa, lazer, férias". Ao mutilar a alma, dilacerar seus sentimentos e entregá-los em confissão literária, Otávio descreve seu prontuário sentimental. E mostra que trair e amar, muitas vezes, andam juntos, seja qual for o objeto da paixão, em qualquer circunstância. Podem estar nas coisas grandes... mas também nos pedaços.
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