Roque é um escrevinhador, pois desde que o conheço está a escrever e a publicar obras, em sua maioria autobiográficas. No dicionário, escrevinhador refere-se a quem escreve mal. Esse não é Roque Junior, o escrevinhador que conheço. Lembra mais o escrevinhador do Mario Vargas Llosa no livro Tia Julia e o escrevinhador, que, aliás, é uma das obras mais criativas dele, um romance autobiográfico. O livro parece um diário e, enquanto a gente o lê, vai reconhecendo aqui e ali muitas e múltiplas histórias, como se as conhecesse. Quando lemos o livro Luta Antimanicomial e "bipolaridade" e detalhes na pandemia de COVID-19, Roque faz um percurso autobiográfico e vai nos conduzindo por andanças da Luta Antimanicomial no ano de 2020, encharcadas de vivências de si e de vários coletivos. Assim, como no escrevinhador de Llosa, impossível não reencontrar vozes, pessoas. Roque faz um percurso de uma riqueza de detalhes/relatos com uma força expressiva da memória. Diria mais, de autoimplicação. Numa polifonia textual, vai trazendo muitas vozes na escrita. Fala de despedidas e de nascimentos, o que vai nos permitindo mais uma vez registrar a dor da perda do companheiro Paulo Miquelon e, nos alegrarmos com a espera do primeiro neto, afetos e sentimentos de um "eu" coletivo. O registro de memórias afetivas de sua infância nos leva ao campo, às vivências na lida rural, forte componente cultural na vida gaúcha. E quando dialoga com a bipolaridade cria o conceito de "bipoliterário", onde não lida como problema, mas aproveita a situação para dar voz à sua Literatura. Espetacular! Quando questiona o conceito de "resiliência", gosto muito das problematizações que faz. As faz pois fala de si, do que experiencia, muito potente. De forma jornalística, vai registrando diários de luta e amorosidades, um convite à VIDA e à resistência. Bem-vindos a bons momentos de leitura, que nos fortalecem nestes tempos sombrios. Roque Junior, o escrevinhador, e sua Martha, instituindo fagulhas de cidadania em territórios antimanicomiais. Uma honra estar aqui em seu 48ºlivro! Prefácio por Fatima Fischer é psicóloga, membra do Fórum Gaúcho de Saúde Mental, professora da UNISINOS, coordenadora da Nau da Liberdade.
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