Guardei Mamalu, o Tubarão de Pindorama por 34 anos.Cláudia havia perdido o texto. Não só esse: eu os tinha numa pasta grande e gorda, Mamalu, O Produtor da Primavera (uma linda peça teatral sobre Jesus) e muitos poemas, contos e crônicas. Guardei porque sou fã literário da Cláudia, sempre fui, ela é uma das maiores escritoras brasileiras. Queria fazer um estudo monográfico sobre ela. O estudo foi feito, de alguma real e possível maneira, mas não é mais mono, é poligráfico, e nele eu falo de vários autores, do tempo e da poesia: Encontros nas Esquinas das Palavras (que fiz no pós doc). Insisto com o intento e a autora de marca maior da nossa nação para que ainda nos alegre, instrua e ilumine, dando a público as peças (teatro, poesias, crônicas, contos) que guardei naquela pasta, e lhe devolvi em 2017, para que as edite.Vemos em Mamalu a força transcultural e inventiva, profundamente nova e criadora, com a pujança de uma nova civilização mestiça se mostrando em todo seu vigor, como aconteceu em Pau-Brasil, Macunaíma e Utopia Selvagem. Mamalu é desse time, dá a continuidade que se transforma e refaz, potencializa, da antropofagia e mais, o que vem gigante na nossa literatura, desde o Guesa até Rosa e João Ubaldo Ribeiro.As obras todas dessa nossa romancista maior se ligam, de várias formas, não só pela história, mas, principalmente, por um pensamento filosófico subjacente, que abarca os fatos mais disparatados sob a ótica do amor humano e do amor divino.Ninguém é de outra raça, somos todos humanos, porém, as etnias que compõem a trindade brasileira têm muito a oferecer umas às outras, e o fazem, o tempo todo, sem parar. A obra magistral de Cláudia Tavares é um dos mais preciosos registros dessa simbiose étnica e cultural, que nos gera, e que precisamos assumir e viver bem com ela, para termos alguma chance na guerra informacional mundial.Essas as vertentes: o amor, a loucura e o nosso modo índio.A floresta é o planeta inteiro, seja gente ou seja bicho, seja pau ou seja pedra, seja fogo ou seja água, tudo e todos estão juntos, na floresta.Mas, mesmo assim, desde menina, o sonho realizado de Cláudia é plantar cada vez mais árvores: as literais, que respiram e nos inspiram, e as que viram polpa de papel, e voam pelo pensamento, nos acordes enlouquecidos e profundamente sábios de seus livros.
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