"Ao contrário do que apregoam as leituras liberais, racismo não é apenas um problema ético, uma categoria jurídica ou um dado psicológico. Racismo é uma relação social, que se estrutura política e economicamente." Assim o filósofo do direito Silvio Luiz de Almeida abre este pequeno e afiado livreto que se propõe a introduzir as problemáticas e tensões produtivas entre marxismo e a questão racial. Publicado originalmente como dossiê de capa que ele organizou para revista Margem Esquerda, o volume põe em xeque a suposta incompatibilidade entre esses dois eixos de reflexão social postulando que seu afastamento mútuo é profundamente nocivo para ambos. Para Almeida, um marxismo que não debata seriamente a questão racial só pode ser caracterizado como débil pois fica inviabilizado de cumprir sua tarefa histórica e teórica maior; e um antirracismo que se recusa a articular a questão racial às determinações materiais do modo de produção capitalista perde combatividade e deixa de apreender aspectos fundamentais de sua própria situação e potencialidade enquanto movimento negro. É este espírito que anima os quatro ensaios elaborados para, de maneira complementar, esquadrinhar algumas perspectivas cruciais de um debate ainda inconcluso mas mais do que necessário. Alessandra Devulsky destrincha as articulações entre Estado, racismo e materialismo; Dennis de Oliveira traça um panorama do histórico do movimento negro no Brasil, sob a perspectiva do marxismo; Marcio Farias apresenta a trajetória e as contribuições de um dos mais brilhantes marxistas brasileiros a interpretar o país dando centralidade à questão racial; e Rosane Borges fecha o livro com um debate sobre os encontros e desencontros entre os feminismo negros e a tradição marxista.
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