Cuidado. Este livro quer te comer. O suculento naco que você tem agora em mãos (ou já sobre o prato?) traz os dentes afiados e a mais tenra fome temperada com fartas doses de apetite e gula. Mordisque algumas páginas, galerias e câmaras, e seu estômago é que gritará para devorá-lo! Porque são tantas as fomes salivando entre si, famélicas umas das outras, que, seja abocanhando, seja engolindo, ao fim estaremos saciados. O que difere então uma isca do prato principal? Banquete e junk food? Humano, animal, mente, corpo, civilização, barbárie, sol, luz fluorescente, desejo, moral...? "Preencher as frestas em silêncio" ou, parafraseando o jacaré narrador desta história, a vida é apenas o intervalo entre o que nos alimenta de verdade - e só a variedade alimenta. Por isso você lamberá os dedos para mudar estas páginas. Por isso regurgitará a digestão e vice-versa. Como bem disse Sebastian Salto: "Minha fome é maior do que eu mesmo." O mundo é definitivamente um grande estômago - e é preciso tê-lo para sobreviver engolindo sapos e comendo moscas. Existe luz no fim do esgoto, ou melhor, dentro dele, melhor ainda: existe humor gourmet in natura.
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