Este livro foi escrito como um desabafo, para suportar dezenove anos de trabalho sem férias. Muitos desabafam através de conversas, eu me desabafo escrevendo. Desabafar com conversas, o vento leva, mas escrevendo ficam registrados acontecimentos. Me pus a escrever à partir de abril de 1983, quando comprei uma máquina de datilografar Facit. À partir daí , escrevia toda à noite, fatos relevantes que aconteciam durante o dia. Às vezes os acontecimentos eram tão emocionantes que me pegava escrevendo no ambiente de trabalho, porque se deixasse para depois a inspiração desapareceria. Só parei de escrever este livro no dia 08/11/90, quando desci a escada do escritório pela última vez, sem me despedir de ninguém e nunca mais voltei . Alguns dias depois recebi a visita de um dos proprietários da empresa com a esposa trazendo-me um cartão prateado que deveriam me entregar numa festa de despedida, a qual não compareci, com os seguintes dizeres: " Para o senhor Oswaldo Tognetta. O grupo Metralha sente-se honrado pelo trabalho que o senhor lhe dedicou. Somos conscientes de que foram anos de profundos resultados que enriqueceram ambas as partes. Parabéns e obrigado. Americana, dezembro de 1990. A Diretoria" Xavier, personagem deste livro, foi responsável por cerca de 60% das fofocas circulantes no ambiente. Conforme ele ficava sabendo de alguma novidade, corria até a minha sala a fim de contar-me. Firma pequena ou média não pode ficar sem o contador por mais que três dias, por isso, não podemos tirar férias, ao passo que firma grande, sempre tem um sub contador, que pode substituí-lo. O serviço destinado ao contador de uma firma pequena ou média, na sua ausência será engavetado, tendo que resolvê-los no retorno ao trabalho. Cheguei a ser convidado por um dos donos da empresa para uma pescaria de uma semana no Pantanal com tudo pago. Não teve como aceitar, era impossível. Meu filho Lauro que era funcionário na ocasião disse: " Mas como, foi o dono da empresa que o convidou e você não vai?" Respondi-lhe que não, pois uma firma pequena não tem como ficar sem o contador. Tinha sempre que escrever na hora da raiva, pois se deixasse para depois não escreveria mais. Às vezes, os patrões me flagravam escrevendo, mas pensavam que fazia parte do meu trabalho. Quero aproveitar a oportunidade para agradecer aos Irmãos Metralha, pela colhida que a mim dispensaram naquele final da década de 70 admitindo-me em sua firma por vinte anos, onde formamos uma família com altos e baixos, alegrias e tristezas, como acontecem em todas as famílias.
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