A arte de ser o que se almeja é a ousadia de reinventar-se. A poesia é, dentre tantas, a arte desta reinvenção de si, já dizia Fernando Pessoa: o poeta é um fingidor . O senso comum, porém, entende que o poeta deve realmente sentir aquilo que expressa em seus versos. Contra isso e aceitando o imperativo da ambiguidade do fingir como verdade da poesia, Diego Braga nos oferece um livro de memórias inventadas, com lembranças do que jamais se deu e recordações do que nunca poderia ter sido, num jogo de espelhos que faz, da ação ficcional, a realidade de um empenho criador. Na riqueza desta obra, a musicalidade da palavra faz da leitura a redescoberta - uma lembrança - do próprio leitor, na medida em que as experiências pessoais podem se tornar, transmutadas pela imaginação, em verdades universais. Prepare-se, então, para recompor o próprio saber que tem de si mesmo ao ler cada poema. Decerto mais de um lhe será certeiro. Para tanto, é preciso, ao mesmo tempo, esquecer de si. Esquecer o que se é, para outrar-se , como disse outro grande poeta, Rimbaud. É a possibilidade que este livro nos oferta.
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