Escrita em 1971, Nossa vida em família é a segunda versão de Em família, peça que Oduvaldo Vianna Filho havia escrito com a colaboração de Paulo Pontes e Ferreira Gullar. Elaborada em um contexto de arrocho salarial e crise no sistema nacional de habitação, a obra coloca nos palcos a temática da dissolução da instituição "família" enquanto núcleo inabalável da vida social. A trama se inicia numa reunião de família, na casa de Sousa e Lu em Miguel Pereira, bairro da capital carioca. Estão presentes quatro dos cinco filhos do casal. A aparente reunião ordinária é motivada pelo aviso sobre o aumento do aluguel, devido à morte do proprietário do imóvel, e o início da busca de um novo lar para os pais. A resolução temporária encontrada pelos filhos, até que cheguem a um acordo, acaba por separar fisicamente o casal: Lu permanece no Rio de Janeiro morando com o filho mais velho, Jorge, enquanto Sousa é acolhido pela filha que mora em São Paulo, Cora. Ao longo da peça, questões individuais e conflitos entre os irmãos acabam por dificultar a junção do casal novamente. Na elaboração da obra, Vianna viu no enredo roteirizado do filme Make Way for Tomorrow (A cruz dos anos), de 1937, inúmeros aspectos que também eram, nos anos 70, observados na realidade social e econômica da pequena classe média brasileira. Dentro dela, mais especificamente entre os idosos, que depois de uma vida de trabalho se viam à margem do sistema produtivo e descobriam ser nada mais que sucata afetiva no âmbito das próprias famílias. No plano da linguagem, a peça representa uma interessante convergência de dois estilos teatrais frequentemente mobilizados pelo dramaturgo, porém, até então, nunca em uma mesma peça: o drama de gerações e a comédia.
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