o avesso da lâmpada trata de uma reafirmação, sempre ampliada, de uma poética que já está lá, nos livros anteriores, e segue em sua sempre "nova geografia de ideias", na qual o sonho e a visão imagética são matéria-prima, mas não só. ainda que as imagens (oníricas, tão caras aos surrealistas) prevaleçam nos poemas mais prosaicos, é visível também uma preocupação formal com a concisão, o que o distancia (ainda que o diálogo com a tradição permaneça) daquele movimento e o distingue pela construção de uma linguagem própria e uma sintaxe singular, sabendo tratar-se de um trabalho árduo, esse da "arte com espinhos". a temática dialoga com o aqui e o agora, desde o punk rock (the clash), passando pelo inevitável tema metalinguístico ("as palavras têm febre" ou "cultivo um sincretismo modulado"), culminando com a surpreendente série de 30 poemas "cidade rabiscada", que devo confessar, foram os que mais me tocaram. a poesia (e eu diria toda a literatura) chamada moderna (e quando digo moderna vou até baudelaire) não escapou nem escapa do conflito travado entre o poeta e a complexidade urbana e humana da "cidade frankenstein", que ("entorpecidos de vertigens") habitamos, aquela que esconde poemas e que é escondida por eles. inevitável não adentrar a esse "mapa devastado" e sua ondeante geografia (a de todos os sentidos). senti aqui um poeta seguro de suas escolhas e sem medo de revelar (vide as epígrafes) os diálogos literários travados nessa trajetória. se, como diz o poeta, "a poesia é a arte do encontro", este encontro com a obra de demetrios galvão muito me acrescenta e ao desejável diálogo entre poetas e poesia dalila teles veras
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