Afinal, do que é que estamos tão esgotados, hoje? Inspirado em um vasto leque de autores, de Musil a Blanchot, de Deleuze a Agamben, de Jünger a Sloterdijk, mas também apoiado em experiências-limite extraídas de Deligny ou de algum trabalho esquizo-cênico, o livro que o leitor tem em mãos apresenta indícios, mesmo fugidios, de um deslocamento em curso. De quem? Do quê? Em qual direção? Não sabemos ao certo. É uma cartografia coletiva, inacabada, movente, que indica pontos de estrangulamento através dos quais, nos avessos do niilismo biopolítico, se liberam outras energias, visões, noções. Não se trata, portanto, de saber "quem fala", nem "de qual lugar se fala", talvez nem mesmo "do que" se fala, mas, como o sugeriu Guattari, "o que fala através de nós". É preciso imaginar uma cartografia do esgotamento que fosse uma espécie de sintomatologia molecular, como em Beckett. Ali, figuras extremas como esgotamento, desastre, catástrofe, e mesmo caosmose, tangenciam pontos de a-fundamento onde aparecem, paradoxalmente e ao mesmo tempo, os contramovimentos do presente. É nesses pontos de inflexão que se insinuam, de maneira às vezes imperceptível, os contragolpes minúsculos, mas também as explosões multitudinárias que denunciam o que caducou (valores, estilos, problemas), ao mesmo tempo em que deixam entrever novos desejos e necessidades.
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