Em Cânone Colonial, Flávio Kothe faz a desconstrução do cânone literário brasileiro do período colonial, a fim de decifrar a mentalidade colonizada que impera no país. Para superar a doutrinação ideológica vigente que só reconsagra o já consagrado, tem-se um distanciamento crítico que permite pensar as obras para lá do horizonte da exegese canonizante e assim discernir a ossatura do sistema vigente. Cada texto canônico é o índice de um problema que o transcende, um signo que, com os demais, vai formar, na correlação com eles e com espaços vazios, uma sentença, uma intenção judicativa, que precisa se decifrada como um palimpsesto para liberar a razão crítica. Essa ruptura provoca reações e resistências, ela se apresenta em forma de análises textuais e argumentos lógicos. Subjacente ao cânone busca-se o conteúdo latente do que nele está manifesto e consagrado. Do literário se origina a hermenêutica filosófica, uma reflexão crítica que passa pelos textos e vai além deles. A ciência do cânone exige consciência do que nele não está, do que foi deixado fora como parte que o integra por negação para se captar o sentido ao que nele se divulga. Ela se torna imaginação crítica. Este livro é mais que um estudo literário: a reflexão sobre a formação e estrutura da mente colonizada e autoritária.
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