O Emaranhado de Valentina Maini conta a história de Gorane e Jokin, dois gêmeos filhos de terroristas do ETA que se perdem e se buscam entre Bilbao e Paris em meio a shows de drum & bass, escritores egocêntricos, heroína, garotas da Nouvelle Vague e fantasmas familiares e históricos. De um lado, é a história de um amor pessoal e de uma catástrofe coletiva irremediavelmente enredada. De outro, contudo, é também uma reflexão sobre as histórias e a capacidade que elas têm de gerar mundos, por isso é um romance profundamente metanarrativo que, como uma lanterna mágica, projeta as sombras de Bolaño e Aagota Kristof, de Clarice Lispector e Burroughs. Como no Bolaño d'Os detetives selvagens e nos primeiros romances de Jennifer Egan, ninguém é quem diz ser e todos são espiões em uma guerra fria de sentimentos: o resultado é o de um prisma psicodélico, uma voz que, como a de um ventríloquo, é muitas vozes, uma obra que brilha em cores que mudam a cada página e explode em todas as direções sobre as linhas de um desejo arrebatador. Enfim, um romance de rara potência, não apenas muito bem escrito (Maini é uma poeta e mostra bem isso, as palavras queimam), mas capaz - e hoje isso é realmente incomum - de unir a superfície da forma à matéria viva que se agita no fundo da alma. Seria um livro incrível mesmo que fosse o trabalho de uma autora estabelecida, o fato de ser a estreia de uma autora na casa dos 30 anos tem algo de sobrenatural.
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