Muitas vezes sem ter com quem dividir dúvidas e riscos, algumas mães precisam fazer mágica para educar os filhos. Resumindo: para não deixar a peteca cair, é preciso, antes de qualquer coisa, ter o dom da criatividade à flor da pele. E exercê-lo sempre. Esse é o caso da mãe de Zacarias, protagonista de O filho da bruxa, de Marcia Kupstas. O menino garante que ela é uma bruxa. Mas não daquelas feias ou velhas, rodeada de morcegos e caldeirões. Trata-se de uma pessoa comum, exceto pelos poderes mágicos. Por meio deles, oferece ao filho emoções únicas. Tem, por exemplo, um escorpião venenoso que corta as unhas do menino. Já no castigo do sótão, ele costuma fazer confidências com um sábio dragão com mais de 1.000 anos. No quintal de casa, encontra fadas que temem gatos falantes. E para falar a verdade, lá, até a comida é bem diferente da que Zacarias costuma encontrar na casa de seus amigos. Já imaginaram a mistura de purê de batata e arroz com pedaços de besouro? Que delícia! Mas é na hora da brincadeira que a festa se completa, com a mãe conseguindo transportá-lo para dentro de seu desenho predileto para viver eletrizantes aventuras. Assim como os adultos, as crianças não escapam aos problemas. Também elas têm a parte que lhes cabe de desconforto no dia a dia. Mas só que os pequenos levam vantagem sobre os grandes. Afinal são eles os maiores fazedores de fantasia. Munição não lhes falta para vencer os obstáculos que a sorte cisma em jogar no meio de seus caminhos. Entre encantos e magias, o que sobressai na narrativa de Marcia Kupstas são as relações familiares: a falta da figura paterna e autoridade materna influindo na criação dos filhos.
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