O homem do outdoor é um livro sobre a violência em suas muitas formas. Narrado por Miguel, um menino de onze anos, conta a história de Ramón e das pessoas que o cercam, nos dois sentidos que o verbo pode ter: o de estar perto e o de encurralar, impondo limites. Ao decidir se mudar para um outdoor, Ramón, que já era considerado um sujeito estranho na vila onde vivia, atrai a atenção de todos os moradores do lugar, tornando-se objeto de vigilância, julgamentos e recriminações, em nome do que as pessoas consideravam, então, uma vida boa e correta. A decisão de Ramón traz à cena a dor e a fragilidade constituintes da vila, tanto as de ordem existencial, quanto as de natureza objetiva, em sua relação indissociável e sufocante. Abandono, pobreza, solidão, insegurança, medo e perdas se materializam em uma necessidade coletiva de controle sobre corpos e modos de vida, como tentativas de conter a miséria e a grandeza da experiência humana. São as muitas combinações desses elementos que fazem as personagens de María José Ferrada, desenhados pelo olhar estranhamente lúcido e sensível do pequeno Miguel. Aliás, a infância, seja como tema ou como voz, tem se mostrado um convite potente para saber quem somos e como vivemos, e também quem podemos ser e como podemos viver, na obra de Ferrada. Como Kramp, seu livro anterior, O homem do outdoor é uma leitura arrebatadora. Fabíola Farias
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