O panorama do romance no ocidente no século XX e início do XXI tem atraído o crítico literário e o público leitor para apreender no, texto romanesco, suas formas contraditórias e transformações que merecem destaques, revelando na arquitetura do discurso ficcional uma mutação da imagem do homem. Neste enfoque, as primeiras leituras da ficção literária contemporânea, desde logo, revela diversidade na atuação do narrador. Até o século XVIII havia uma atitude narrativa de raízes tradicionais, que se perpetuaram nos continuadores da escola realista do século XIX. O Conservadorismo perpassava por um narrador onisciente e onipresente que sabia mais sobre as personagens do que elas próprias e tudo informava ao leitor, que se sentia seguro e não precisa participar e recriar o texto, posto que a onisciência do narrador deixava-o crer na certeza e na verdade de valores absolutos que lhe eram apresentados. O tempo cronológico exigia uma rígida linearidade dos fatos, alicerçada por um espaço definido e um foco narrativo que se mantia fiel à estrutura perspectiva, quer dizer, havia uma certeza em relação ao enredo que não causava dúvidas. No entanto, depois de meados do século XIX surgem várias novidades concernentes a atuação do narrador e da trama romanesca e, essas transformações têm como argamassa a fragmentação de valores que o nosso mundo sofre desde os primeiros anos do século XX. Dentre esses fatores, alguns parecem mais significativos para destaque das alterações da pessoa do narrador e de sua voz orientadora no discurso ficcional. Perante a totalidade dos textos que serão analisados, a mutação do narrador e suas novas funções serão elucidativas para o pesquisador da arte literária, mesmo porque a metamorfose operada na fragmentação da organização narrativa coincidirá com a evolução do processo de esboroamento do cosmos ficcional; resultando daí a consonância entre a literatura e o Ser - do homem atual, uma vez que o cosmos ficcional se torna a mimese de um novo real. Uma visão subjetiva, mas coerente, demonstra que os textos modernos no campo da narrativa revelam, nas suas criações literárias, sinal de ruptura entre a voz narradora e o universo ficcional narrado. Uma sinuosa linha evolutiva e esfaceladora da consciência do narrador atinge, finalmente, a instauração da percepção caleidoscópica no captar da matéria narrativa.
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