Um líder que ninguém jamais viu nomeia, por meio de seu mensageiro, um lugar-tenente para representá-lo em certo oásis do vasto deserto saariano. Os critérios para essa escolha não são claros. O ritual de unção do eleito, diga-se assim, envolve o uso de uma túnica que logo se revela um instrumento a um só tempo sutil e monstruoso de controle e dominação desse lugar-tenente. O enredo todo, com suas idas e vindas, é um grande pretexto para a discussão que de fato interessa ao autor: os processos de corrosão e devastação desencadeados pela sede de poder e pelas ambições desmedidas que a acompanham. Mais do que uma alegoria sobre o poder, a novela O tumor, do líbio Ibrahim Al-Koni, é uma fantasia distópica sobre o poder. A trama se desenvolve no seio de uma sociedade desértica, num oásis, e, para além das soberbas descrições de costumes e do meio - Al-Koni é membro dessa etnia, que ele conhece como ninguém -, evidencia que a organização social do deserto, por mais rústica e distante que possa parecer à primeira vista, está mais próxima das sociedades modernas do que sonha a nossa vã filosofia.
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