Em 1999 saiu a primeira versão deste ensaio no diário Haaretz, artigo que suscitou um vivo interesse por parte de uma vasta audiência. Aqui, um arqueólogo de campo dá conta da evolução da disciplina que na Palestina florescerá a partir do final do séc. XIX com um fundamental impulso religioso, já que explorando a inscrição no território das Sagradas Escrituras, paradigma que se perdurará até aos anos 1950-60. Mas a partir dos anos 1970 começam a emergir dados contraditórios em relação à aproximação que laboriosamente foi sendo tecida entre «arqueologia bíblica» e Bíblia. Com efeito, virá a apurar-se que os israelitas não vêm do Egito, não vaguearam pelo deserto, nem conquistaram a terra através de uma campanha militar. Mais ainda, o reino de David e Salomão não constituiu um império, não há sequer evidência de que tenha sido uma potência regional, quando muito um pequeno reino tribal. Herzog sinaliza a emergência de um novo paradigma na arqueologia, uma «revolução científica» nos termos de Thomas Kuhn, dando conta do fosso que se foi cavando entre arqueologia e mitos bíblicos e nacionais. Arqueólogos, historiadores e estudiosos da Bíblia têm vindo a convergir na compreensão de que as fases formativas do povo de Israel evoluíram de forma inteiramente diferente da apresentada na Bíblia. Apesar dos factos serem há muito conhecido, a historiografia nacionalista persiste na sua velha mitologia.
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