Na Poética, 1449, 5, Aristóteles fala brevemente sobre o cômico: "A comédia é a imitação de homens de qualidade moral inferior, não em toda espécie de vício, mas no domínio do ridículo, que é uma parte do feio. Porque o ridículo é uma feiura sem dor nem dano; assim, por exemplo, a máscara cômica é feia e disforme sem expressão de dor". O trecho refere o feio em geral, aiskhrón, para especificar um subgênero dele, gheloion, que a latinidade e autores dos séculos XVI, XVII e XVIII chamaram de ridiculum, ridículo. O exemplo da máscara teatral sintetiza dois elementos que definem o feio: a deformação inofensiva, que é tratada ironicamente como gheloion, ridículo; a deformação nociva, tratada agressivamente com psógos, maledicência. Nos dois casos, a definição do cômico como deformação pressupõe o conceito grego e latino do belo-bom como unidade racional sem deformação e mistura. Sensivelmente, a feiura é deformação do belo-bom; moralmente, é vício e, intelectualmente, erro. A matéria geral dos poemas cômicos do Códice Asensio-Cunha é a feiura física, do corpo, e a feiura moral, da alma. A feiura do corpo corresponde a inumeráveis espécies de deformações e misturas; a da alma divide-se em duas, estupidez e maldade. Nos poemas, a feiura física metaforiza a feiura moral de vícios fracos, ridicularizados, e vícios fortes, vituperados com maledicência.
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