Escrever a história de um homem enquanto vivo é uma empresa delicadíssima senão impossível: todavia, n este caso, como se trata de Pio IX, a natural curiosidade e avidez do público custa-lhe a esperar pela posteridade. Por tanto, o historiador pode já hoje julga-los imparcialmente, apresentando a sua verdadeira luz esse longo pontificado, que começou por vitoriosas aclamações, e parece que está ameaçado de acabar no mais rigoroso cativeiro. Em 1870, no meio dos desastres que nos oprimiam, projetei escrever este livro. Aproveitando-se da decadência da França, o Piemonte acabava de cometer os atentados que faziam sofrer em silencio as almas virtuosas. Não esqueçamos, porém, que a história não deve ser nem uma tese, nem um panegírico, nem um panfleto. E a história poder-se-á descrever sem comoções? De certo não; pela minha parte sinto-me incapaz de o fazer: a frieza faz supor a indiferença e o ceticismo. Deve-se por tanto contar singelamente os fatos, sem exprimir a admiração nem o ódio: é o que eu fiz. É possível encontrar-se no meu livro alguns lances a retificar, ou apreciações contestáveis; ninguém é isento de errar; mas conscienciosamente digo que não asseverei coisa alguma de que não estivesse intimamente convencido. O Pontificado de Pio IX não teve igual até agora, não só pela duração, como pelos trabalhos e varia fortuna. Exercitou a teologia tão pacificamente como o poderia ter feito nos tempos mais tranquilos, exercitando-a mais que nenhum outro depois do Concílio de Trento. Nada lhe tem faltado: episódios trágicos e romanescos, pompas majestosas, trabalhos artísticos, paz e tranquilidade, estrondo das armas, esplendor de vitórias, derrotas imerecidas, destroços, ligados tão estreitamente aos da França que pode-se dizer que os foram preparando, e seguindo; finalmente, as calúnias de uma imprensa ímpia e antissocial. Tudo isto se acumulou sobre o caminho de Pio IX. Mas superior às intrigas diplomáticas que não cessam de o minar, acima das agressões brutais que não cessam de fazer-lhe, acima das afeições apaixonadas que não descuram de o defender, domina a nobre, meiga, insinuante, e real fisionomia de Pio IX - fisionomia de um santo. Não sei se um dia a Igreja juntará à memória do Pontífice o título de santo que os povos lhe dão; pelo menos será tido como o mais grande rei do seu século, e o maior incitador das ideias. O falso liberalismo desmascarado por esta intrépida mão, em vão tenta rir e protestar: a humanidade foge-lhe, e com uma surpresa mesclada de terror já começa a prever que a época presente terá no futuro o nome do século de Pio IX - século de Pio IX, antidoto do século de Voltaire, aurora de um novo período de conquistas para a verdade, e remate definitivo de nossas revoluções. Aconselharam-me, porém, uma única excepção em favor do Syllabus: Com efeito, o Syllabus, é a obra culminante do pontificado de Pio IX ; mas se em todo o mundo se fala nele, é preciso que todo o mundo o conheça; e muitas vezes não se sabe onde encontra-lo. No entanto não ignoro que as intenções da Igreja, nunca foram entregar a interpretação do primeiro que se apresentasse esse documento redigido sob uma forma inteiramente cientifica. Agora não me resta mais que agradecer a todos aqueles que generosamente me auxiliaram nas minhas pesquisas. Se o meu modesto trabalho não corresponder ao que esperavam, nem a grandeza do objeto, não será todavia perdido para mim. A contemplação de um rosto como o de Pio IX sossega e fortifica o olhar, e neste suave estudo, colhi já a minha mais doce recompensa. Bourg, 17 de março de 1876. J. M. Villefranche Nessa edição há incluso as primorosas Introduções do romancista portuguêsCamilo Castelo Branco, e, do escritor-político-romancista brasileiro Plínio Salgado.
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