Este livro cujo tema nos remete à Pedagogia do Oprimido (1987), considerada a principal obra de Paulo Freire, apresenta relevantes contribuições, sobretudo para os que lutam por uma sociedade igualitária. Manoel Belisario, ao enfatizar os elementos da natureza, entre eles o mar, a chuva, o solo e a mata, aborda questões concernentes ao campo e à cidade, destacando o sofrimento do povo desfavorecido. Enfatiza o lamento do povo sertanejo com a seca. Neste lamento, o sofrimento é materializado no clamor ao rio para que este banhe o sertão e acabe com a falta de água que assola, principalmente, o sertão nordestino. O sentimento de culpa de homens e de mulheres pobres, sobretudo quando atribuído à pobreza, às dificuldades enfrentadas com a falta de água, com a fome, com a falta de recursos básicos para sobreviver, retrata explicitamente a origem desse sentimento incutido no inconsciente dessas pessoas sob a sombra do fatalismo. Desse modo, ao trazer à tona o pobre, o negro, o índio, enfim, os que foram submetidos a situações degradantes de opressão, a Poesia do oprimido coaduna com as questões pautadas na Pedagogia do Oprimido na medida em que aponta indícios das causas da opressão, dentre os quais a globalização, faceta do capitalismo. E sendo a exacerbação do lucro o eixo central desse sistema econômico, a acumulação de capital depende da subjugação dos seres humanos à condição de capital humano. Nessas condições em que o capitalismo transcende a questão econômica, envolvendo a existência social, os detentores dos meios de produção se utilizam de diversas formas para manter a exploração, sendo a opressão parte dessa engrenagem. Por isso Paulo Freire (1987) assevera ser a desumanização de ambas as partes, tanto dos que roubam a humanidade como dos que são roubados. As condições opressoras que levam muitos a migrarem do interior para a capital, abordadas na obra Poesia do Oprimido, muitas vezes reincidem quando homens, mulheres e crianças são mais uma vez impedidos de viverem dignamente, quando a eles são negados os direitos básicos em detrimento da expansão do capitalismo. A obscuridade dessa situação impede que haja o desnudar da culpa impregnada nos oprimidos. No desenvolver do seu livro, Manoel Belisario aponta questões contemporâneas, instigando reflexões sobre a importância da luta coletiva para a libertação dos oprimidos. O foco dessa ação é a conscientização política, é a emancipação, a fim de que sejam desvendadas as verdadeiras causas da opressão, e com isso reconheçam-se atores de sua história, atuando efetivamente nos processos que lhes dizem respeito, de tudo o que lhes oprimem e impedem de serem mais. Tal reconhecimento está intrinsecamente relacionado com o engajamento na construção de uma sociedade justa e igualitária, onde a dignidade humana seja seu principal valor. Maria Rutimar de Jesus Belisario - Mestre em educação
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