Mas - pergunta-se Canguilhem - e se o "erro" fosse compreendido não apenas como o oposto racional da verdade, mas sobretudo como um "erro" (tanto no sentido de errância quanto no de acidente genético mutacional) da vida? Nesse caso, o erro estaria enraizado na vida como "o próprio do vivente" e a ciência, que tem a verdade como efeito necessário, poderia ser compreendida como mais um "erro" da vida. Isso é o que teria escapado a Nietzsche. E, tendo ficado preso à concepção cartesiana de erro - Descartes que, com isso, inviabilizaria a estética, como já vimos ser esse o juízo de Canguilhem desde a conferência de 1937 -, Nietzsche, por sua vez, inviabilizaria a ciência como teoria da aparência, mediante a qual se autoriza uma pedagogia do erro, e não uma busca pela essência. Retomando, pois, "os termos do problema", a filosofia de Canguilhem "os pensa em outra direção". Contudo, situando sua "retificação" a Nietzsche no próprio domínio de Nietzsche (não mais no domínio cartesiano do entendimento, mas no domínio vital), a tese pela reabilitação da ciência por Canguilhem é também, mas num outro sentido, perfeitamente nietzschiana. A superação dos obstáculos patológicos da vida passa a ser a meta para um novo conceito de progresso; e a psicanálise do fogo se torna uma pedagogia da cura.
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