Práticas profissionais e resistências: movimentos em uma rede de saúde mental aborda os meandros do cuidado em rede. Tão almejado no Sistema Único de Saúde, os arranjos do trabalho em rede são permeados por normativas, protocolos, solidariedades, parcerias, articulações, conflitos e resistências, pois, envolvem os fluxos entre serviços e a circulação de sujeitos: usuários, profissionais e gestores. Nesse processo complexo, as resistências são quase sempre entendidas negativamente como barreira, insensatez ou indisposição, mas raramente se investiga as razões pelas quais as resistências ocorrem, as análises que elas estimulam e as transformações sociais que elas promovem. Faltam, portanto, estudos sobre "o que querem os que não querem", parafraseando Gilles Monceau. Diante de um movimento de resistência em uma em rede de saúde mental de Campinas/SP, o autor, como um participante-pesquisador, buscou compreender as motivações dos profissionais-resistentes e acompanhar os seus efeitos no cotidiano durante um ano, por meio de observação participante e entrevistas. Apoiado nas contribuições de autores clássicos da Análise Institucional, como René Lourau e Georges Lapassade, e mais recentes, como Gilles Monceau, assim como nas ideias de Michel Foucault e de autores da Atenção Psicossocial e da Saúde Coletiva, o autor analisa as movimentações dos sujeitos para lidar com as normativas das políticas públicas e gerenciais na área da saúde mental, guiadas pelo enquadre das práticas profissionais e pelos ideais neoliberais. Integra, dessa forma, os estudos de articulação entre Análise Institucional e Saúde Coletiva, que foram inaugurados por sua orientadora Solange L'Abbate. Em meio às análises teóricas, o autor compartilha suas imaginações por meio de figuras a fim de ampliar as perspectivas analíticas. Sempre em busca de aberturas, ressalta como a análise pelas resistências faz emergir "outros quereres" e pode ser um recurso para o coletivo aumentar as possibilidades de escapar da estreita reprodução normativa e, ao mesmo tempo, alargar os horizontes de criação, produzindo vivacidade e movimento na rede de cuidado. Por trazer contribuições conceituais e práticas para a construção do cuidado em rede permeada por adversidades políticas e sociais, o livro se destina a toda coletividade que trabalha com saúde mental, atenção básica, saúde coletiva e análise institucional.
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