Em sete capítulos, como as sete notas capazes de guardar todos os sons do mundo, o poeta João Guilhoto apresenta o seu novo livro "Rasto de espuma", em que traz a poesia à luz da dicotomia de um mundo no qual separam-se, como opostos, os conceitos do concreto e do abstrato. Assim como a eletricidade, o sol, a noite, o coração, a poesia de Guilhoto revela a vida como rasto de espuma na areia molhada, algo que existe apenas por um breve instante, e some sem deixar vestígio, naquilo a que chamamos universo. Nas palavras do prefaciador Ronaldo Cagiano, são as questões existenciais a seiva que alimenta este livro, em que o poeta nos revela uma outra dimensão das coisas, navegando o texto neste mar que une o tangível e o percebido, o visível e o onírico. Sobretudo, o poeta investiga o poder de atração dos corpos, o dele próprio, o do ser amado, tão concreto como todas as coisas / tão abstrato como todas as possibilidades. É isto, a poesia de João Guilhoto precipita-se - precipita-nos - ao limite da nossa própria consciência, e da própria existência, essa liberdade da flor que a leva a murchar mesmo que o sol brilhe, uma tarde sem receio quando temos um mundo ainda por inaugurar. Deste mergulho fundo nas questões sem resposta, nas dúvidas eternas que passam longe da ciência, João apenas nos adverte: está quase a começar o tempo das grandes despedidas.
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